Marcos Piangers: entrevista exclusiva para a ABAC

09 . jul . 2024

Marcos Piangers já foi chamado de “guru”, pelo portal UOL, e de “fenômeno da internet”, pelo jornal O Globo. Seus vídeos já alcançaram meio bilhão de visualizações na internet e sua palestra está entre as mais bem avaliadas do Brasil.

Autor do best-seller “O Papai é Pop”, com mais de um milhão de cópias vendidas e que foi parar nos cinemas, Piangers fala, em entrevista exclusiva para a Revista do Sistema de Consórcios, sobre inovação, criatividade e humanidade, tríade tema da sua palestra no encerramento do 44º CONAC – Congresso Nacional de Administradoras de Consórcio.

1. Inovação, criatividade e humanidade. Qual a importância desses pilares no desenvolvimento de ambientes de sucesso?

Sabemos que a inteligência artificial mostrou, nos últimos anos, ser capaz de fazer aquilo que a gente faz todos os dias no trabalho. Se olharmos uma teoria de Harvard chamada Múltiplas Inteligências, do professor Howard Gardner, percebemos que nos últimos 100 anos passamos a medir errado o potencial humano. Nossa métrica tem sido o QI, a capacidade intelectual que a gente tem de realizar as coisas, e todo o preparo escolar é baseado naquilo que a gente consegue memorizar e aplicar. Mas nós temos uma série de outras inteligências que a máquina ainda não consegue alcançar.

A minha defesa é que a gente invista nessas outras inteligências, ainda muito pouco sublinhadas pelo sistema educacional atual, e que são, inclusive, importantes para os negócios. Muitos empreendedores, por exemplo, seguem mais seus sentimentos do que confiam na lógica. Mas esse é um caminho muito mais difícil, pois muitos empresários não confiam em intuição ou emoções. É por isso que a gente vê empresas copiando outras empresas, fazendo o que todo mundo está fazendo.

2. Acredita que as empresas estejam virando a chave no que diz respeito aos reflexos positivos de se investir nessa tríade?

O ritmo de inovação ainda é muito lento por conta de um legado de empresas tradicionais que basicamente fazem o que todas as empresas estão fazendo. É muito interessante ver como as cidades se destacam em indústrias parecidas. É interessante ver também como a gente pode criar empresas que fazem produtos e serviços diferentes daquilo que está no mercado. Esse processo de transformação é lento, mas as empresas que conseguirem aplicar inovação de forma mais cultural vão voar.

3. As administradoras de consórcios são empresas feitas de “gente para gente”, ou seja, onde o lado humano está muito presente. Você pode dar algumas dicas para fortalecer essa relação?

Tem um livro que se chama A Organização sem Medo, baseado em uma pesquisa que o Google fez por 10 anos para tentar entender o que faz uma equipe ser vencedora. Eles queriam avaliar se eram funcionários mais inteligentes ou mais comunicativos, e chegaram à conclusão de que as equipes mais eficientes eram as que tinham segurança psicológica, que é a confiança uns nos outros, o que só acontece quando exercitamos as outras inteligências sem ser a lógica. 

E se isso acontecer também nas empresas, ou seja, se elas passarem a conversar, postar, escrever, a contar contar as suas dificuldades como seres humanos e a ouvirem o outro com atenção, com vontade, com interesse genuíno, elas vão conseguir se preparar para o futuro. 

4. O lado humano é muito destacado nas suas falas. Na sua visão, é possível ser um bom profissional se não for uma boa pessoa?

Tem uma pesquisa que mostra que quando uma pessoa que tem mau caráter é contratada por uma empresa, ela pode performar bem nos primeiros meses mas depois contamina todos em um viés negativo. Bons contratadores dizem que para você contratar alguém tem que ser uma pessoa que você gostaria de jantar com ela todo dia, ou seja, quem entendeu a importância das relações humanas pro futuro, entendeu a importância de um comportamento, de uma ética, de um lidar com a vida de uma forma respeitosa, conectada, agradecida e esforçada para ser a sua melhor versão.

5. Quais os impactos do “hoje” no profissional do futuro?

Vejo nas minhas filhas uma má vontade com empresas que não são sérias, que tratam mal seus funcionários, que não se comunicam bem. Vejo também, olhando para as minhas filhas, um certo desdém por aquilo que é puramente tecnológico, como os influenciadores robôs. 

Olho para essas transformações tecnológicas e me preocupo com as gerações futuras. Mas vejo que a coisa mais importante em uma pessoa é desenvolver o lado humano. A venda, o atendimento e a comunicação vão acontecer muitas vezes por inteligência artificial, mas sempre vai precisar de alguém que se conecte de pessoa para pessoa. Isso é um nível de relacionamento muito mais tocante para todos os seres humanos. 

Acredito, sim, que a inteligência artificial vai ter uma razão de existir, vai impactar muitos trabalhos, mas será mais uma ferramenta em meio a tantos que a gente já tem.

6. É inegável a velocidade com que tudo muda o tempo todo. Quando falamos de negócios, na sua visão, há algo que nunca vai mudar?

Tenho um amigo que é investidor de startups e ele tem uma equipe que segue 80 critérios para investir em uma empresa. Mas ele diz que só injeta dinheiro se ele sentar pessoalmente com o fundador e sentir que “bateu o santo”. Mesmo tendo critérios e a inteligência artificial para nos ajudar, penso que no futuro a gente ainda vai ter esse feeling. Já estamos sentindo as coisas e acredito que a gente vai confiar cada vez mais nos nossos instintos.

A inteligência artificial vai ter uma função, mas nós também vamos achar os nossos espaços humanos, as nossas conexões. Minha esperança é que cada vez mais a gente consiga ser tão conectado com a humanidade, que adoeça menos.

7. Como criar um ambiente de trabalho diferenciado?

A primeira coisa é buscar a segurança psicológica. A psicologia tem mostrado uns ambientes corporativos que funcionam, e isso vem através de saber ouvir, de mostrar as suas vulnerabilidades, de repetir e de entender comunicação.

A gente quer que as pessoas sejam felizes, então precisamos redesenhar a forma como fazemos as coisas. Quando um líder perceber isso, ele vai construir o ambiente favorável e verá a sua empresa florescer, não por um ano ou dois, mas por muito tempo, entregando valor para a sociedade. 

8.  Vivemos tempos de transformação acelerada. Desacelerar pode ser um grande erro ou a salvação?

Salvação. Já estudei bastante sobre tempo para entender que existe, no nosso século, uma moeda social. O tempo está associado ao seu valor na sociedade. Quando você diz que tem pouco tempo, aparentemente seu tempo é muito valioso, está sendo muito demandado, e a gente se acostumou a considerar importante uma pessoa ocupada. Mas a coisa mais chique é ter tempo e é um nível que muita gente ainda não percebeu. 

Você tem que se conectar com a sua verdade, com a sua história, e, quando isso acontece, você entende o que é sucesso e percebe que é muito mais fácil do que imaginava.

9. Humanos X inteligência artificial. Quem se sai melhor nessa batalha?

Essa é uma pergunta difícil. Penso que pode acontecer de a inteligência artificial ficar cada vez melhor. A gente pluga essa inteligência em robôs, em armas, e chega a um ponto em que esses robôs armados são tão inteligentes que começam a pensar em por que obedecer os seres humanos. Eles terão seus próprios objetivos e esses vão passar por cima da humanidade.

Existe, sim, a possibilidade de um futuro distópico, que é um futuro quebrado, em que a nossa imaginação cria as piores situações. Tem um historiador que eu gosto muito que diz que ele só vê esperança na humanidade se para cada dólar que for investido na inteligência artificial, for investido outro dólar nas inteligências humanas. Hoje vimos trilhões de dólares sendo investidos em inteligência artificial, ou seja, a gente acha mais importante treinar uma máquina do que cuidar bem de uma criança.

Confira abaixo a entrevista com Marcos Piangers em vídeo no canal da ABAC no Youtube:

E para baixar a edição 79 da Revista Sistema de Consórcios, com a cobertura completa do 44º CONAC, clique aqui.

Categoria(s):

Institucional

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